segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Em plena primavera, poderíamos ser só jardim dentro de nós.



Tenho um amigo que me desafia a olhar para dentro de mim diariamente.

Em geral é um exercício muito gratificante, pois procuro me esvaziar do que é pesado ou incômodo e me encher do que acalanta a minha alma.

Fica fácil olhar pra dentro toda vez que nossa casa interior está organizada, limpa, cheirosa...

Só que, sem ninguém combinar com você, começa uma obra bem empoeirada de um lado da sua casa. E do outro lado abrem uma igreja fanática, cheia de cânticos estridentes e gritos que lembram rituais de exorcismo.

Coitada da moradia do meu frágil ser!

Meditar ficou mais difícil. Sorrir ficou mais difícil. Não chorar ficou mais difícil.

Os gestos normalmente automáticos de acordar, escovar os dentes, tomar café da manhã...

Tudo que parecia ser uma rotina sob controle, exige agora um esforço descomunal.

Bem que, em plena primavera, poderíamos ser só jardim dentro de nós.

Quem disse?

De repente o ar começa a faltar.

As vias aéreas totalmente congestionadas.

Ausência sufocante.

Nesses momentos não há associação entre o que sabemos e o que sentimos.

As ações nem sempre coerentes com a razão.

Sou capaz de me fazer presente e ausente quase na velocidade da luz. Ou no segundo de um suspiro. Ou na pausa entre duas notas.

Você só quer sua casa perfumada e silenciosa novamente.

Naquele silêncio que faz o amor se espalhar.

Naquele poema que leu meus pensamentos num megafone. (Sabe aquela mistura de vergonha e alívio?)

Será que ainda podem ouvir minha voz de longe?

Será que você pode me ouvir agora de onde você está?

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