domingo, 24 de julho de 2011

O Cleomar Brandi que conheci

Cleomar Brandi, filho caçula da adorável Cleonice Brandi, avó paterna do meu primeiro grande amor, com quem tanto sonhei casar e formar uma família.
Em 1995 entrei oficialmente para a família Brandi. Meu tio, que é padre, celebrou o casamento. Na saída começamos a receber as saudações dos convidados quando chega o simpático tio Kéo (aqui pra nós, tio preferido de todos os sobrinhos, inclusive do noivo) e sái com a seguinte pérola: "Pô, tia Déa, esse padre ficou me sacaneando a cerimônia toda. Toda hora mandando todos ficarem de pé!" Cleomar era cadeirante, mas raramente lembrávamos disso. Ele era tão completo, tão livre, tão indenpente, que jamais o associávamos a qualquer  tipo de limitação. Ele não era um cadeirante dinâmico. Era um homem dinâmico. E alí estava a primeira grande lição que ele me ensinou: Só o  céu é o limite!
Por que ele era o tio preferido? Eu conheço muitos tios que se fazem fascinante por sua personalidade forte, pela vida boêmia, pelas incansáveis conquistas, pela vida profissional bem sucedida...Tio Kéo tinha tudo isso, mas algo ainda melhor: Tudo isso somado ao real interesse pelos seus. Ele não nos via como um grupo. Conhecia cada um individualmente. Sabia listar os defeitos e as qualidades de cada um de nós. Nossas características mais peculiares e nossos segredos mais bem guardados. Ao lado dele nos sentíamos vistos. Nos sentíamos importantes.
Homem sensível, não era apenas um teórico na arte da comunicação. Ele sabia manter o canal aberto, sem qualquer interferência. Uma daquelas raras pessoas realmente disponíveis, embora sempre muito ocupado com seus tantos trabalhos.
Sabia amar e sabia ser amado. Cuidava com infinito amor da sua maezinha, mas sempre a fez acreditar que era cuidado e não cuidador, presenteando-a, assim, com uma existência ainda mais significativa.
Mediava os conflitos familiares, com palavras de respeito, compaixão e compreensão.
Tantas vezes intercedeu por mim e por suas sobrinhas netas, com seu jeito decidido, firme e ,acima de tudo, protetor.
Tio Kéo amava minhas meninas. Amava de tantas maneiras: Porque eram netas de Luiz, porque eram filhas de Marcio, porque eram filhas de Tia Déa, porque Isadora tem um jeito assim e Duda tem um jeito assado.
Quando pequenas as duas passeavam para cima e para baixo em sua garupa na cadeira de rodas. Para elas era um parque de diversões. Analisava a liderança escancarada de Isadora e a liderança magnética de Duda.
Outra lição que aprendi: Enxergar as pessoas como elas realmente são e assim poder amá-las sem erros ou dúvidas.
Era um leitor voraz, indicava livros, músicas, poesias...Quantas vezes varei noites no Pastelão ouvindo seus "causos" nas praias e rio de Arembepe, maravilhada com tanta intensidade! Era isso! Era isso que nos unia! Essa intensidade! Essa fome de viver elevada à máxima potência. Se era pra viver, que cada dia fosse inesquecível!
Nessas madrugadas, quando esfriava, tio Kéo me emprestava seu inseparável blusão jeans... Há algum tempo ele me deu a chave do seu carro, pediu que eu fosse pegar o blusão e me disse: Eu quero que você fique com ele. Sabia que era minha herança. Sabia que ele estava me deixando nossas melhores lembranças. Agradeci emocionada. Naquela noite chorei muito. Chorei porque percebi que ele se preparava para a partida.
É como sempre dizem: Tudo que é bom dura pouco! Mas o suficiente para transformar para sempre as nossas vidas!
Obrigada, tio Kéo, por ter me ensinado tanta coisa. Obrigada por ter feito de mim uma pessoa muito melhor!

Um comentário:

  1. Tive o privilégio de trabalhar com Cleomar na implantação da TV Aperipê, ele foi meu chefe e com ele aprendi muita coisa. Devo a ele a oportunidade de integrar o jornalismo da emissora, pois quando entrei só havia vaga para reporter esportivo. Traalhei no esporte porque precisava do emprego mas sem paixões. Tive que recorrer a verbetes para me inteirar do jargão futebolístico. Já no jornalismo tive condições de crescer na reportagem e realizar um bom trabalho tendo algumas materias sendo geradas em rede nacional. Cleomar era um chefe muito exigente , nem parecida o mesmo cara que dividia a vodka no barzinho, onde nos conquistava com seus inteligentes tiradas...Depois de conversar comigo dando uma carona no seu Passat cinza, disse "O que é que um cara como você tá fazendo no esporte" no dia seguinte fui transferido para o jornalismo.

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