terça-feira, 1 de novembro de 2016

A gente nunca vai sobreviver a não ser que se torne um pouco louco



A gente nunca vai sobreviver a não ser que se torne um pouco louco.

Não criei esse raciocínio. Foi um belíssimo (B E L Í S S I M O) homem britânico que abalou o mundo com essa que ainda é umas das minhas músicas pop favoritas de todos os tempos: Crazy (louco, em inglês).

Dizem que o Seal estava se referindo a algumas coisas "loucas" acontecendo no mundo, como a queda do Muro de Berlim.

Porque coisas loucas são assim: Referências de coisas inusitadas. Muito boas ou muito ruins.

Talvez inusitada não seja a palavra mais adequada. Talvez seja melhor usar a palavra impactante.

Vejo coisas impactantes acontecendo no mundo agora.

Uma amiga de outro país me perguntou esses dias se o Brasil estava se tornando um país bipartidário, como o dela.

Respondi (sem qualquer conhecimento mais profundo de ciência política) que nosso país ainda está engatinhando no exercício da democracia e a maioria das pessoas sequer tem noção do que são questões partidárias e definitivamente eu não acreditava que era esse o caminho que o Brasil estava tomando.

Só que há muito tempo deixei de ver fronteiras geográficas.

Não me sinto Aracajuana, não me sinto Brasileira. Apenas parte do mundo. Parte do todo.

As crises políticas e econômicas são recortes trágicos de um mundo doente aqui e em quase todos os países, ressalvadas as particularidades de cada região.

A naturalização da intolerância e do ódio são um dos sintomas que mais me fazem refletir.

Esses dias fui obrigada a conviver com alguém que nunca me conheceu pessoalmente, mas vetou todas as formas de comunicação que tentei estabelecer.

E tentei muitas e muitas vezes ao longo dos anos, na tentativa de ajudar alguém que me é muito caro.

Enfim o dia de nos encontrarmos chegou, justamente porque as pessoas precisam se tornar um pouco loucas para sobreviver.

Ouvi sexismo, preconceito, maldade, coisas de fazer o coração sangrar, com aquele sentimento de injustiça.

Esse alguém (que me julgou e condenou sem nunca ter me olhado nos olhos) e outras pessoas que compartilham da mesma opinião tiveram acesso a minha vida.

Achei que seria necessário diante das circunstâncias que apareceram.

Passei muitos dias sem dar notícias, nem mesmo às pessoas mais próximas.

De alguma forma baixei a guarda e, mesmo sem querer, permiti que esses sentimentos negativos me tocassem.

Então hoje comecei a responder, calmamente, uma a uma.

O que disse foi basicamente o mesmo: Entrei no olho do furacão. Deixei-me atropelar pelos fatos e perdi o chão. Parei tudo e fui meditar. Meditar por horas, dois dias seguidos E isso me reconectou com o todo.

com o mundo lindo que amo pertencer. Nesse mundo há compaixão por todas as pessoas, inclusive as que lhe passam as piores energias. Elas não sabem o que estão fazendo.

Se elas parassem alguns minutos do dia que fosse para simplesmente ouvirem a própria respiração, ouviriam o que o Universo, Deus, Uma Força Maior (o que quer que você acredite) tem a dizer.

O Universo me soprou que enlouquecer num mundo deturpado é não compactuar com a maldade. Nesse sentido abençoados todos os "loucos".

Uma Força Maior me deu certeza de que tudo está encaminhado em seu percurso natural e que é melhor que eu seja uma facilitadora desse trajeto e não a pessoa coberta de boias e coletes salva-vidas nadando contra a corrente.

Deus encheu meu coração de compaixão por aqueles que cegam diante de suas próprias crenças, perdendo a oportunidade de viver com leveza, algo que não pretendo abrir mão, independente dos desafios que apareçam na minha frente.

Buddah descobriu que somos todos um.

Sou a pessoa que teve um colapso. Sou a pessoa que trata. A pessoa que está sendo tratada. Sou a família que ajuda. Sou a família que atrapalha. Sou quem julga. Sou quem é julgada.

Com absoluta honestidade, sou toda a maldade que me incomoda.

Abraçando-a e deixando partir, encontro a saída do olho do furacão.

Osho afirmou que ao menos que eu seja um Buddah, não conheço nada de liberdade.

Assim sigo meditando, grata por todas as oportunidades e aprendizado que os últimos dias têm proporcionado.

E mesmo não conhecendo a liberdade, irei ao seu encontro. Hoje e sempre!







segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Em plena primavera, poderíamos ser só jardim dentro de nós.



Tenho um amigo que me desafia a olhar para dentro de mim diariamente.

Em geral é um exercício muito gratificante, pois procuro me esvaziar do que é pesado ou incômodo e me encher do que acalanta a minha alma.

Fica fácil olhar pra dentro toda vez que nossa casa interior está organizada, limpa, cheirosa...

Só que, sem ninguém combinar com você, começa uma obra bem empoeirada de um lado da sua casa. E do outro lado abrem uma igreja fanática, cheia de cânticos estridentes e gritos que lembram rituais de exorcismo.

Coitada da moradia do meu frágil ser!

Meditar ficou mais difícil. Sorrir ficou mais difícil. Não chorar ficou mais difícil.

Os gestos normalmente automáticos de acordar, escovar os dentes, tomar café da manhã...

Tudo que parecia ser uma rotina sob controle, exige agora um esforço descomunal.

Bem que, em plena primavera, poderíamos ser só jardim dentro de nós.

Quem disse?

De repente o ar começa a faltar.

As vias aéreas totalmente congestionadas.

Ausência sufocante.

Nesses momentos não há associação entre o que sabemos e o que sentimos.

As ações nem sempre coerentes com a razão.

Sou capaz de me fazer presente e ausente quase na velocidade da luz. Ou no segundo de um suspiro. Ou na pausa entre duas notas.

Você só quer sua casa perfumada e silenciosa novamente.

Naquele silêncio que faz o amor se espalhar.

Naquele poema que leu meus pensamentos num megafone. (Sabe aquela mistura de vergonha e alívio?)

Será que ainda podem ouvir minha voz de longe?

Será que você pode me ouvir agora de onde você está?

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Silêncio que vou me detonar!

Eu dançava. Dançava mais do que me era permitido na minha infância.

Dançava porque amava música e desde cedo descobri que meu corpo era mais um instrumento na sinfonia dos sons.

Não tive tapinha nas costas, nem ninguém na família super valorizando meus supostos dons artísticos.

Era aquela criação tradicional, onde arte é lazer e estudo é coisa séria. Estudo e arte evidentemente não convergiam.

Ser alguém é ter uma boa profissão.

Arte é entretenimento.

Eu sou crítica. Extremamente critica! Gosto de admirar trabalhos bem feitos. Sei identificar quando algo saiu bom por pura sorte, por talento nato, por muita dedicação ou pela soma de todas essas coisas.

Não foram meus pais que me proibiram de ver a dança como algo mais que um lazer de alguns dias na semana.

Foi meu aguçado senso crítico, que não encontrava em mim a extraordinariedade dos grandes artistas.

Quisera eu saber que a prática, mais que qualquer dom, leva à perfeição.

Namorei com a dança a minha vida inteira. Na maioria das vezes namorei escondido.

Quantas e quantas vezes ensaiei diversas coreografias o ano inteiro e não me permiti me apresentar, pois não me julgava boa o suficiente, ou com o corpo em forma o suficiente, ou porque achava que todas as minhas amigas da dança eram muito mais bonitas que eu?

E quando chegavam alunas novas com um, dois anos de dança, que estavam infinitamente mais avançadas que eu?

Como sempre tive dificuldade de não ser a melhor! Quanta vaidade me afastou de uma vida plena!

Sim! Alguém hoje estava elogiando minha auto estima. Meu Deus! Só eu sei quantas vezes abandonei as turmas porque não suportava me ver de frente para o espelho ao lado de pessoas tão lindas e com posturas impecáveis.

Na dança do ventre são 20 anos. Vintes anos de bastidores. Vinte anos de "Ai, Catarina! Pensei melhor e não vou me apresentar não!"

Dar a cara à tapa?

Expor um corpo imperfeito?

Demonstrar que a falta de dedicação está tornando minha dança medíocre?

Hoje foi dia para tudo isso.

Dancei um solo medíocre.

Não seria, se eu tivesse feito direitinho toda a coreografia que Hayffa e eu construímos conjuntamente, com tanto amor!

Mas eu estava lá no meio daquele palco que é e sempre foi minha casa:

O Palco do Teatro Tobias Barreto.

E eu não sei para que planeta meus pensamentos me levaram. Eu, sempre tão musical, não permiti que as notas tocassem minha pele.

Tinha alguma coisa muito errada? Não! Não tinha um milésimo do meu potencial. Claro! Quanto tempo me dediquei a estudar? A ensaiar? A descontruir todas as notas da música? Mais do que fiz em muitos anos. Menos do que quero para me satisfazer.

Sim, amores, é a prática e só a prática que leva à perfeição.

Mas sabe o que aconteceu?

Eu não me importei!

Não me importei de estar fora de forma.

Não me importei de estar meio fora do ritmo.

Não me importei por estar sendo observada por bailarinas que tanto respeito e admiro.

Eu estava era com um baita orgulho de estar vencendo minhas inseguranças, meus medos, meu ridículo perfeccionismo.

Estava maravilhada com minha entrega tão carente de um conteúdo que já tive e que os anos de pouca dedicação me tiraram.

Realizada em cada falha, em cada parte da coreografia que esqueci e medianamente improvisei.

Não conseguia ouvir a música, mas ouvia os gritos da minha grande amiga, parceira e para sempre torcedora, Catarina Hora, que berrava: "Sorria!"

Eu sorria por meio segundo, em gratidão à atenção de uma das maiores bailarinas do Brasil, e voltava a me fechar, concentrada e tensa por todos os erros que eu ainda estava por cometer.

Não sentia a vibração do chão que pisava, mas sentia os olhos generosos e brilhantes da minha coreógrafa, amiga e maior incentivadora, Hayffa Manzatto.

Eu não fui péssima, contudo não vou enganar vocês dizendo que arrasei na dança.

Mas, certamente posso assegurar que arrasei na vida!

E que venham os próximos micos, até que um dia eu assista um vídeo meu e diga: "Hoje dancei muito bem!"

Na dança burlesca eu e minhas amigas arrasamos muuuuuuuuuuuito! Mas esse "causo" fica pra outra hora.

Quero mandar um beijo para meu pai, que está aniversariando hoje. Para minha mãe. Para a Xuxa. Para todos aqueles sorrisos lindos da coxia (como todos são carinhosos comigo!). Para Lúcia Medina. Para todos os meus amigos e para vocês!

A melhor coisa do mundo é perder a vergonha de ser feliz!





segunda-feira, 22 de agosto de 2016

NÃO LEIA AS COISAS IMPUBLICÁVEIS QUE PUBLIQUEI

E se a gente esquecesse os filtros sociais por alguns minutos?



“Obrigada por pedir e desconsiderar minha opinião, sem qualquer argumento.”

“Tive vontade de levantar da mesa quando você, que aparenta ser tão legal, elogiou uma atleta morena das Olimpíadas, referindo-se a Rafaela Silva, atleta negra que conquistou a medalha de ouro. Ah, vocês nem perceberam? Pois é. Bem por isso quis virar as costas e ir embora.”

“Afinal a ideia é debater equidade de gêneros e a maioria dos palestrantes é homem? Bondade de vocês nos explicarem exatamente o que sentimos e como somos. Nós realmente não sabíamos que pensávamos assim, como diria o Renato Russo.”

“Então a sua família é perfeita e melhor que as outras, com os ajustes heterodoxos que vocês fazem para se adequar aos desgastes da rotina? Entendi.”

“Obrigada pelo convite. Não foi tão bom quanto usar essas horas para terminar de assistir o último episódio de Marcella e deitar despreocupadamente na minha confortável cama, mas serviu para valorizar ainda mais o abençoado Netflix.”

“Se você tivesse me avisado dos seus planos ditatoriais antes, eu teria pedido mais reforços para esquematizar uma luta armada contra o regime. Felizmente fugi pra outro país, enquanto meus olhos procuram por discos voadores no céu”.

“A sua proposta era muito boa, especialmente porque me fez perceber que nem toda obsessão perfeccionista gera bons resultados.”

“Desculpe, esse assunto não me interessa. O tempo me ensinou que certos assuntos só deveriam surgir de forma recorrente em consultório, com um bom profissional que lhe ajude a sair desse ciclo aparentemente interminável. Você já reclamou sobre isso quantas vezes? 343?”

“Dá licença. Vim aqui deletar meus arquivos que você tem copiado. Pensando bem... Vou deixa-los, pois todo mundo tem reconhecido e comentado sobre as adaptações mal feitas.”

“Eu sinto ciúmes quando vejo fotos nas redes sociais desses encontros que têm acontecido sem mim. E crio teorias que giram em torno de: o que será que eu fiz? Quando racionalmente sei que tudo não passa de momento e oportunidade. Ainda assim eu sinto ciúmes. Pronto, falei! E nem pensem que estou me referindo a todo e qualquer encontro de qualquer um de vocês. Isso é bem pessoal!”

“Adoraria lhe ajudar mais, quando você me procura com angústia, adoraria aprofundar nossas conversas, tocando em pontos delicados, mas sei que você prefere manter tudo superficial e ouvir sua própria voz ou a nossa dizendo que concorda com você. Então eu faço isso. Faço isso porque te amo.”

“Vocês se tornaram pessoas muito chatas. Não! Espera! Eu me tornei uma pessoa muito chata, pois perdi a paciência de conviver com vocês.”

E por, último, pra não dizer que só trabalho no campo das indiretas:

“Monara, eu reclamo do meu cabelo porque tenho distorção de autoimagem. Você fez um ótimo trabalho! É que reconhecer isso me faz reconhecer que não tenho exatamente a aparência que criei de mim. Quanto mais me irrito, mais sua fã eu fico.”

Contem-me os pensamentos impublicáveis que passaram pela cabeça de vocês ultimamente...


domingo, 24 de julho de 2016

A Armadilha de Confundir o Trabalho que Realizamos com o que Somos


Esses dias uma amiga querida assumiu pela primeira vez um importante cargo de chefia.

Vendo minha alegria e leveza ao voluntariamente dispensar (quase na mesma época) um cargo similar, veio me questionar o que ela deveria fazer para não se apegar à nova função ou a esse poder novo que experimenta.

Conversamos sobre isso por alguns minutos, mas talvez tenha ficado muita coisa por dizer, então refleti um “cadinho” mais:

Sou incapaz de julgar as escolhas dos outros. Só posso, humildemente, compartilhar um pouco da minha experiência, que pode lhe servir de inspiração, caso você se identifique comigo.

Isso vai soar bem clichê, mas a primeira premissa é ter em mente o estado em que nos encontramos.

É a mais pura verdade quando dizemos que estamos exercendo a chefia ao invés de afirmarmos que somos chefes de alguma coisa.

Sabe por quê? Porque nossa vida é cheia de papéis e apostar todo nosso ser no cargo que desempenhamos é, no mínimo, guardar todos os ovos na mesma cesta.

E aí está a grande primeira armadilha: Confundir o trabalho que você realiza com o que você é.

Costumo dizer que sou uma bailarina/escritora que exerce advocacia pública.

Só que isso também é uma grande brincadeira.

Amanhã posso deixar de dançar, perder a capacidade motora ou mesmo mental de escrever. Ou posso, tranquilamente, largar minha atual profissão, seja lá por qual motivo, e, FELIZMENTE, não vou deixar de ser a mesmíssima Dea.

Gosto de gostar de graça. Amar, ser amada. Rir e chorar, sozinha ou cercada de pessoas que me fazem bem.

Outra armadilha igualmente perigosa é gastar tudo que ganhamos, especialmente com os acréscimos salariais das funções de liderança.

Creio que, depois da sensação prazerosa de poder, o que mais causa apego a um cargo é acreditar que tivemos um aumento salarial.

É preciso compreender que toda chefia é transitória.

E isso, lembro que cheguei a comentar com minha amiga.

Que tal não contar com essa grana extra? Que tal aprender a investir essa diferença salarial que veio ao invés de incorporá-la ao seu padrão de vida?

Impossível não se apegar ao cargo, quando você fez mil dívidas contando com essa grana extra.

É uma tentação, eu sei, mas não estou aqui dizendo para doar o acréscimo. Apenas para poupá-lo.

Entender que é um lucro que aceitamos de bom grado, sem perder a consciência de que amanhã ou depois a vida seguirá e muito provavelmente as circunstâncias lhe tirarão da zona de conforto.

Quando ganhamos uma posição de destaque em nossas carreiras, devemos ser gratos à oportunidade, pois certamente é fruto de reconhecimento à nossa competência. E quando perdemos? É porque perdemos nosso valor profissional? De forma alguma!

A maioria das vezes perdemos porque chegou o momento de outra pessoa receber a mesma valorização.

Não dá para levar decisões profissionais para o lado pessoal. Acredito que a mesma gratidão que nos pôs num posto, deve ser diariamente cultivada, inclusive quando da nossa saída.

Você já notou que as pessoas que confundem ser e ter são péssimas companhias?

São pessoas de um assunto só. Quem acredita que é médico, que é diretor, que é engenheiro, que é servidor público, que é patrão, normalmente só fala sobre trabalho ou sobre o que o dinheiro pode comprar com a remuneração por esse trabalho. A conversa fica chata, não é?

Que tal dedicar-se com a máxima entrega naquelas horas dedicadas à sua profissão, porém ter igual dedicação à sua família, aos amigos, aos seus hobbies?

É distribuir seus ovos de ouro em várias cestas. Se a cesta profissional cair, quebrando todos os seus ovos, você ainda poderá matar sua fome de vida com as cestas familiares, de amizades e de amor próprio.

E compreenderá que ciclos precisam ser fechados, até para que outras oportunidades melhores possam chegar.

No mais, aproveitem sempre a chance de usar o poder temporariamente concedido para operar mudanças que tornem melhor o ambiente do trabalho, deixando muita saudade quando o mundo girar.



segunda-feira, 28 de março de 2016

Seu amor pelo The Smiths diz muito sobre você


Há alguns anos minha filha mais velha comentou, sobre minha declarada paixão pelo The Smiths(que passou a ser dela também): "Não confie numa pessoa feliz que adora Smiths, ela é podre por dentro."

Isadora é assim: cheia de tiradas sarcásticas, humor refinado e super inteligente.

Nada mais verdadeiro.

Quanta dor existia dentro de mim, quantas crises de depressão fortíssima já me abateram, mesmo que sejam hoje uma lembrança (muito viva) de tudo que não quero mais para mim.

Como um diabético que deve controlar a insulina, devo estar atenta a todos os sintomas e combatê-la antes de ser nocauteada.

Os dias mais sombrios agora estão distantes, mas ainda me vejo admirando boquiaberta a espontânea alegria (leve e simples) de viver de algumas pessoas, como a do meu marido, Junior.

Para elas é difícil entender tanta afinidade com a interpretação doída do Morrissey (Swwet Moz). Para nós, nada mais óbvio.


Quinta passada, exausta, com dor de cabeça e muito sono, arrastei (e confesso até paguei) para o Junior me acompanhar no show dos Handsome Devils, num tributo aos Smiths.

A cena era de uma geração inteira em frente ao palco, dançando, cantando e sentido cada palavra proferida e cada acorde tocado, enquanto Junior, cada vez mais bocejante, implorava para irmos embora.

Eu disse que iria quando ouvisse minhas duas músicas favoritas: How Soon is Now e There´s a light that Never Goes Out.

Para minha sorte, e total infortúnio do meu acompanhante, foram justamente as duas últimas músicas de um inesquecível show.

Em sua defesa, relato que, mesmo tendo arco íris no lugar de sombras por dentro (e talvez por isso mesmo), ele resistiu heroicamente.

Em minha defesa, admito que não amo the smiths pelo nosso passado juntos, mas por tudo que aquela guitarra deliciosamente arrastada ainda me faz sentir. Amo porque aquela dor exposta, sem qualquer pudor, é um exorcismo da melhor espécie. Amo porque a música me salva todos os dias da minha vida.


segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Mãe em primeiro dia de aula do filho. Método Tradicional ou Construtivista?

Ser mãe de gerações diversas é um desafio indescritivelmente difícil. Minhas grandonas já estão na deliciosa fase universitária, que, ao meu ver, é o início dos melhores anos da juventude.

Meu caçula ainda está trilhando seus primeiros passos.

Estudou numa escola relativamente nova na cidade, método construtivista.

Pra quem não sabe, o método educacional construtivista foi idealizado pelo biólogo suíço Jean Piaget.

Segundo Piaget, o pensamento da criança passa por quatro estágios, desde o nascimento até o início da adolescência, quando a capacidade plena de raciocínio é atingida.

Assim, nossos filhos constroem o conhecimento a partir de suas descobertas, quando em contato com o mundo e com os objetos.

Observa-se atentamente para que o conteúdo só seja passado ao aluno quando ele tem condições intelectuais de absorver.

Ou seja, o trabalho de educar não se limita a transmitir conteúdos, mas a favorecer a atividade mental do aluno.

Importa não apenas assimilar conceitos, mas também gerar questionamentos, ampliar as ideias.

No método construtivista o foco é o aluno e suas operações mentais.

Você percebe o respeito a cada aluno individualmente, com muito mais clareza, pois o professor observa-o, investiga quais são os seus conhecimentos prévios, seus interesses e, a partir dessa bagagem, procura apresentar diversos elementos para que ele construa seu próprio conhecimento.

Ou seja, o professor cria situações para que o aluno chegue ao conhecimento.

Ele cresceu com autonomia, interagindo com o meio, com idéias próprias e capaz de criar, com uma visão particular do mundo.


Ainda assim, tinha muita gente próxima que me dizia para ter cuidado com isso, pois o mundo ainda cobrava uma educação mais formal.

Atenta ao conselho dos meus bem sucedidos amigos e familiares, experimentei colocá-lo numa escola tradicional no ano passado. Infeliz escolha!

Meu filho, ao entrar na escola todas as manhãs, parecia um boi em meio a uma manada a ser abatida.

E não era um choque por não acompanhar o método. Ao contrário, era o primeiro a terminar todas as atividades e sempre me reclamava que "já sabia tudo que a tia estava ensinando".


Na escola tradicional, chegando alfabetizado e com ótimas noções de matemática, meu filho foi tratado como garoto problema, pois destoava do todo (ainda que por ter um desenvolvimento acima da média), num ambiente cuja visão é coletiva. Os alunos integram uma turma e a aula é uniforme para aquela turma.

Meu pequeno, acostumado a absorver conhecimento vivenciando e experimentado, se viu por horas a fio sentando imóvel numa cadeira, olhando fixo para um quadro, enquanto uma professora falava sem parar.

Conversando com a coordenação, ouvi que o conhecimento dele estava muito acima dos demais colegas, o que me fez ter certeza que o método construtivista funcionava muito bem, pelo menos para uma criança com seu perfil.

Meu primeiro impulso foi tirá-lo imediatamente (no segundo mês de aula, quando sua infelicidade só aumentava). Fui aconselhada pelo psicólogo infantil (que teve que começar a acompanhá-lo) a aguardar até o final do ano letivo.

Enquanto isso, claro, fiz de tudo para que ele se sentisse mais confortável naquele ambiente tão distante do modo como ele vê, sente e experimenta o mundo.

Fiz amizade com as mães, fiz várias festinhas e noites do pijama na nossa casa, para que ele se enturmasse.

Esperto como ele só, criou laços de amizade belíssimos, mas dissociava-os completamente da sua relação com a escola.

No final do ano o levei para visitar o lugar onde meu coração de mãe sempre achou que ele deveria estudar.

Radiante, ele mesmo tratou de anunciar a todos a tão esperada mudança.

Cheguei a perguntar: -Filho, mas e Otávio de Diogo (os amigos de quem ele mais se aproximou)?

-Mamãe, já sei o telefone e onde eles moram! (Falou do alto dos seus sábios 6 anos de idade)

Hoje foi o tão aguardado primeiro dia de aula.

Imaginei que seria dia de festa e empolgação, mas criança por acaso entende que vai voltar a viver o método com o qual tanto se identificou?

Ele estava apavorado. Demorou para largar minha mão. Sua carinha de assustado quase me arrancou lágrimas (que segurei para não assustá-lo mais ainda).

Mãe quer ver seu filho empolgado e, acima de tudo, muito feliz, não é?

Bom, ainda não foi nesse primeiro contato.

Dizem que gato escaldado tem medo de água fria, então acho que meu menino está apreensivo para não viver nada de ruim que experimentou em 2015. Apreensivo por não conhecer ninguém e assim temendo não conseguir se enturmar...

Os medos agora são outros, mas minha intuição diz que agora ele vai se encontrar.

Feliz ano letivo para todas as crianças e muita força para todas as mamães que entregam seus maiores tesouros nas mãos dessas instituições de ensino.